MoBlack: Da Rádio de Província ao Sucesso Global do Afro House — A História Real de um Pioneiro
A história de Mimmo Falcone, mundialmente conhecido como MoBlack, não é apenas a jornada de um artista que acreditou no seu instinto: é a prova viva de como a paixão, a intuição e a coragem podem reescrever o destino de um género musical inteiro. Hoje, MoBlack é uma das figuras mais influentes do Afro House — um dos responsáveis pela sua expansão global, pelo seu refinamento estético e por abrir portas a dezenas de artistas africanos e internacionais. Mas tudo começou muito longe dos grandes palcos.
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De Sant’Antonio Abate para o Mundo
Antes de ser um nome incontornável da música electrónica, MoBlack era um jovem napolitano de uma pequena localidade, Sant’Antonio Abate. Crescer fora das grandes metrópoles italianas marcou-o profundamente — e foi justamente essa sensação de “provincialidade” que o empurrou para o mundo.
Formou-se em Línguas Estrangeiras sem grande paixão pelos livros, mas com a convicção de que o inglês e uma mente aberta o levariam longe. E levaram: recebeu uma proposta inesperada para gerir uma empresa italiana no Gana, onde se mudou em 2003 como Managing Director. A música, até então, era apenas um hobby — mas o destino preparava algo maior.
O Gana: o ponto de viragem
Em Acra, MoBlack encontrou um universo musical vibrante, espiritual e profundamente comunitário. Frequentou rádios, clubes, estúdios e artistas locais, mergulhando numa cultura onde o ritmo é linguagem e identidade. Trabalhou na rádio YFM, tocou em clubes e começou a produzir as suas primeiras faixas. Mas quando enviou demos para editoras, não recebeu qualquer resposta. Em vez de desistir, tomou a decisão que mudaria tudo: Criar a sua própria editora: MoBlack Records (2013) E assim nasceu uma das labels mais influentes do Afro House mundial.
MoBlack Records: da primeira experiência falhada ao fenómeno global
A primeira release passou despercebida. Som demasiado tribal para a época, pouca experiência em gestão editorial… mas tudo mudou rápido. MoBlack estudou o mercado, ajustou o caminho e começou a lançar música todas as semanas, selecionando artistas africanos e internacionais. A curadoria, sempre pessoal, tornou-se a sua maior força — e as lojas digitais, especialmente a Traxsource, começaram a apostar no catálogo. O impacto foi tão forte que MoBlack acabou convidado a liderar a secção de Afro House da Traxsource durante três anos, moldando o género numa direção mais melodic, deep e progressiva, antecipando tendências que hoje dominam pistas e festivais.
A evolução do Afro House: tribal, deep, afrotech, melodic… até hoje
Ouvir o catálogo da MOBlack Records é ouvir a própria evolução do Afro House dos últimos 12 anos.
Do tribale ao soulful, do deep ao afrotech, do melodic ao afro-disco contemporâneo — tudo refletido na visão de Mimmo e no diálogo constante com África. A frase que mais define o seu impacto talvez seja esta: “O Afro House tem longa vida porque é o género mais aberto à mistura.”
Black Coffee, Tulum, Ibiza e a explosão mundial
MoBlack reconhece sem hesitar: Black Coffee foi determinante. O carisma, a história e a projeção internacional do DJ sul-africano criaram condições para o boom global. Mas sem editoras consistentes — como a MoBlack Records — o género não teria escapado da sua “bolha” inicial. O pós-pandemia acelerou tudo. As pessoas queriam dançar, cantar, sentir. O Afro House era o antídoto perfeito: feliz, emocional, espiritual e vibrante. E quando MoBlack tocou num showcase em Paris perante uma multidão jovem, percebeu: “Ali entendi que tínhamos chegado. Quando um género chega aos jovens, muda tudo.”
Críticas, polémicas e a eterna pergunta: é música “soft”?
Existe quem critique o Afro House como música “light”, “soft”, “de aperitivo”. MoBlack ri — porque ouviu isso há mais de 10 anos. Explica que essa crítica nasce da falta de conhecimento histórico. O Afro House moderno é híbrido, emocional, profundo, mas poderoso. Não é sobre BPM — é sobre vibração. “Não é a velocidade. É a vibração. Uma faixa lenta pode ter mais energia do que uma rápida.” E os grandes clubes de Ibiza provam isso: aquilo que há uma década diziam ser “música de cocktail” hoje enche milhares.
50 demos por dia — e a curadoria mais pessoal do género
MoBlack recebe mais de 50 demos por dia. E ouve tudo. Porque para ele, a música é prioridade absoluta — não o nome, não o hype, não o currículo. “Quero publicar aquilo que me emociona e que me faz crescer. Prefiro arriscar numa faixa experimental do que repetir fórmulas.” Tal como no DJing, acredita que a técnica é secundária — a criatividade e a seleção são o que definem um artista.
A rádio: a escola invisível
Antes de clubes, antes de editoras, antes de tudo… houve a rádio. MoBlack começou aos 15 anos em rádios locais italianas, apresentando programas e construindo seleções musicais que o ensinaram a criar narrativa — algo que hoje é evidente nas suas longas viagens sonoras.
O impacto de “Yamore”: o tema que mudou tudo
Apesar de já ser respeitado no mundo da electrónica, houve um momento que ampliou o seu alcance mundial: “Yamore”, o rework emocional que levou o nome MoBlack a novas audiências. “Yamore” tornou-se um hino transversal — espiritual, melodioso e universal — e abriu novas portas, dos grandes clubes aos principais festivais. Foi o ponto em que a identidade musical de MoBlack ficou realmente marcada no mapa internacional. E, como ele próprio diz: “Isto não é o fim. O Afro House está a meio do seu caminho.”
Conclusão: o homem que transformou uma paixão numa revolução cultural
A história de MOBlack é feita de coragem: Coragem de mudar de país, de começar do zero, de criar uma editora quando ninguém respondia aos seus emails, de acreditar num género que muitos subestimavam. Hoje, MoBlack não é apenas um DJ ou um label boss — é um dos pilares da evolução contemporânea do Afro House. E a sua história prova que, quando a música é verdadeira, encontra sempre o seu destino.


Fonte da Entrevista Original
Este artigo baseia-se numa entrevista publicada no canal oficial M2O TV no YouTube, disponível em: @m2otube.
